sábado, 5 de maio de 2012

"Mundo Miúdo"


O Teatro de Bonecos é uma modalidade que atrai cada vez mais artistas e público, resultando em eventos como o “Festival do Boneco”, que já contou com duas excelentes edições promovidas pela Cia. de Teatro Nu Escuro, em Goiânia.
A escolha da atriz e bonequeira gaúcha Genifer Gerhardt, no espetáculo “Mundo Miúdo”, que abriu, na última quinta (03/05), no Teatro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, a 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha, no entanto, não é muito comum. Ela decidiu trabalhar com o gênero conhecido como Teatro Lambe-lambe, em alusão ao ofício dos fotógrafos que trabalhavam (e ainda trabalham, em algumas cidades) em praças e calçadas, registrando imagens de pessoas com suas caixas fotográficas.
“Mundo Miúdo”, como a própria designação informa, apresenta personagens minúsculas, manipuladas durante cerca de 2 minutos, para um único expectador.
Toda a criação, carpintaria e pintura da caixa cênica, iluminação, cenários, confecção e manipulação dos bonecos é de Genifer Gerhardt, que propõe o inverso da ação efetuada pelo fotógrafo lambe-lambe, já que o fotografado (espectador) é quem observa o que mostra o interior da caixa escura, e não o fotógrafo.
O que, a princípio, poderia parecer somente a exposição de imagens em uma caixa, neste caso, se converte em um espetáculo completo, com cortina, personagens, cenário, iluminação (controlada por Genifer com um dos pés, por meio de um pedal) e trilha sonora de Renato Muller (acompanhada pelo espectador com o auxílio de um fone de ouvido).
“Mundo Miúdo”, na verdade, é o nome de toda a estrutura envolvida na execução do trabalho, a qual pode ser utilizada para a apresentação de cenas variadas. Trata-se de uma pequena caixa de madeira, com pouco mais de 30 centímetros, sustentada por um tripé, que pode ser regulado de acordo com a altura do espectador.
A cena que tive a oportunidade de assistir intitula-se “Vó”. A abertura da cortina revela a presença de uma velha senhora de traços bem feitos e marcantes (ainda que não muito belos), manipulada pela mão direita de Genifer, enquanto sua mão esquerda também é utilizada como personagem. Há uma combinação das técnicas de manipulação direta e fio, para a execução dos movimentos desejados.
O cenário compõe-se de material bastante simples (carretel de madeira que serve como mesa, bateria que se transforma em rádio e caixa de fósforo utilizada como mobiliário), mas em harmonia total com a cena apresentada. Até um palito de fósforo serve como bengala para a velha senhora.
Foi interessante acompanhar não só a representação da cena, mas, também, a reação e o encantamento de cada um daqueles que a assistiam, satisfação, esta, provocada não só pelo delicado trabalho desenvolvido e apresentado por Genifer, mas, também por sua grande simpatia no acolhimento de sua plateia de um único espectador, o qual recebia, ao término do espetáculo, um selo também miúdo, retratando a Vó apresentada na peça, bem como o endereço do seu site (www.genifer.com.br), o qual também vale a pena visitar.
O Teatro, já cunhado como a arte do efêmero, por atingir uma plateia quantitativamente limitada, que assiste sempre a uma encenação diferente, mesmo em se tratando do mesmo espetáculo, neste caso, atinge o ápice da efemeridade, já que uma única pessoa pode testemunhar cada apresentação, tonando-a algo íntimo e único.

Gilson P. Borges

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