domingo, 13 de maio de 2012

“Sacy Pererê, A Lenda da Meia-Noite”


Com raízes no Oriente, o Teatro de Sombras não é uma modalidade muito comum no Ocidente, quando se pensa em Teatro de Animação, mas foi exatamente esta a vertente escolhida pela Cia. Teatro Lumbra de Animação, para apresentar o espetáculo “Sacy Pererê, A Lenda da Meia-Noite”, no último sábado (12/05), no Teatro do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, dentro da programação da 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha.
            Com direção geral, cenografia e iluminação de Alexandre Fávero e atuação e operação de luz de Alexandre Fávero e Roger Lisboa, o espetáculo aborda a figura do Sacy Pererê, personagem marcante do folclore brasileiro, popularizada pela obra de Monteiro Lobato e pela série televisiva “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, como um negro que possui uma perna só, fuma cachimbo, usa uma carapuça vermelha com poderes mágicos e emprega seu tempo na realização de pequenas travessuras e assustando viajantes noturnos, cujas origens estariam ligadas à região das Missões, no Sul do País.
            A grafia com “y” foi mantida pelo grupo assim como está registrada no livro no qual a peça se baseou, intitulado “Sacy Pererê: Resultado de Um Inquérito”, primeira obra publicada por Monteiro Lobato, em 1918.
Para dar vida à história de um viajante que é vítima das diabruras do Sacy e decide capturá-lo, foram utilizadas não somente figuras fixas expostas à luz, mas toda uma combinação de técnicas que enriquecem sobremaneira a narração. As mãos dos atores tornam-se as mãos das personagens e um dos atores, inclusive, atua sem a utilização da técnica da sombra, entrando e saindo da tela de projeção, no melhor estilo do Grupo Lanterna Magika, de Praga, só que com substituição de imagens filmadas pela composição de sombras.
O preto & branco tradicional deste estilo de animação, aqui é substituído por detalhes em cores, como a carapuça vermelha do Sacy, por exemplo.
Em algumas cenas, ocorre a sobreposição de sombras, como se uma projeção cinematográfica estivesse sendo utilizada, e, em outras, a sombra de bonecos e cavalos contracena com a sombra dos manipuladores.
O ambiente retratado pela sombra da paisagem ora remete ao Sul do País, ora ao sertão mineiro de Guimarães Rosa, aproximando-se, ainda, algumas vezes, do sertão nordestino.
Uma das cenas mais bonitas e poéticas foi produzida quando a sombra de uma jangada navegava em um rio, onde o reflexo da própria água era projetado na tela. Já a cena que provocou maior reação na plateia foi a do primeiro encontro do viajante com o Sacy, a qual gerou um certo riso nervoso nas crianças.
Como dá título à peça, a figura do Sacy mereceria aparecer um pouco mais em cena, ou seja, pelo menos mais uma de suas travessuras poderia ser incorporada ao enredo, dando mais impacto ainda à ação.
            Todo o trabalho de pesquisa e produção da Cia. Teatro Lumbra de Animação resultou em um espetáculo preciso e belo, capaz de atrair o interesse e despertar a imaginação e simpatia do público, incluindo aqueles que temem, de uma forma ou de outra, o “mundo das sombras”.

Gilson P. Borges

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