quinta-feira, 10 de maio de 2012

“Cinta Liga/Desliga”


“Cinta Liga/Desliga” foi o espetáculo apresentado na última quarta-feira (09/05), pelo Núcleo Trompas de Falópio, no Teatro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, dentro da programação da 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha.

Com direção de Luciane Olendzki e atuação de Aline Tanaã Tavares, Grasiela Muller e Odelta Simonetti, a trama investe na linguagem do clown, para expressar facetas do mundo feminino.

A sinopse do espetáculo erroneamente leva à ideia de que trata-se de um roteiro no estilo “confissões de adolescentes”, mas, quem esperava encontrar esta vertente decepcionou-se. Com predominância de rotinas circenses, não há intenção alguma em discutir os problemas e características do mundo feminino, mesmo porque os diálogos são quase inexistentes e as atrizes só se manifestam vocalmente, de forma explícita, no final do espetáculo, quando cantam uma música.

Apesar de apresentado como peça teatral, o espetáculo ficaria mais adequado em outro tipo de espaço, já que investe na exibição dos números mais popularizados na rotina circense, atendendo perfeitamente ao estilo comédia “pastelão”, inteiramente baseado na interação com o público, a qual perdeu-se um pouco no espaço do palco italiano. Por exemplo, quem estava na plateia superior reclamava que não podia ver o que se passava na plateia inferior, quando as atrizes deixavam o palco.

O que diferencia a apresentação da rotina normal do palhaço no picadeiro é que sua figura masculina é substituída pela de três palhaças, as quais seguem um roteiro que passa pela preparação do corpo (depilação - inclusive pubiana, por exemplo), paquera e danças eróticas, com o único fim de conseguir um “príncipe encantado”. Este “príncipe” é selecionado, já no final do espetáculo, como “voluntário” e levado ao palco, para participar de uma cena que caracteriza-se, inicialmente, como uma das melhores do espetáculo, na qual, como um “Cinderello”, cada uma das personagens tenta lhe fazer caber nos pés o sapato que proporcionará o sonhado casamento e final feliz. Tal cena, contudo, é quebrada, quando uma das atrizes senta-se em seu colo, posiciona sua mão em partes íntimas do corpo e lhe beija repetidamente a boca.

Nada de novo ou “escandaloso” neste tipo de interação. O próprio Caetano Veloso já foi literalmente despido em um espetáculo dirigido por José Celso Martinez Corrêa. A diferença é que quem assiste um espetáculo do Zé Celso já está ciente de que este, provavelmente, conterá cenas de nudez e que qualquer tipo de interação pode acontecer durante o desenrolar da peça, estando, de certa forma, previamente preparado para aceitar este tipo de jogo. Já em “Cinta Liga/Desliga”, com a presença da figura de clowns e uma sinopse com a conotação de “confissões de adolescentes”, este jogo se torna, de certa forma, impróprio, mesmo porque não contribui em nada para a dramaturgia do espetáculo, mas, única e exclusivamente, para despertar o riso fácil e gratuito.

Se os papéis se invertessem, e um palhaço selecionasse uma “voluntária”, a fizesse sentar-se em seu colo, passasse suas mãos em seu corpo e lhe beijasse a boca, seriam grandes as chances de que ele fosse processado por assédio ou molestação sexual.

Por sorte do elenco, o referido “voluntário” se dispôs a participar do jogo, mas é bom lembrar que existe um espaço pessoal que, mesmo com o rompimento da quarta parede, deve ser, de certa forma, observado e respeitado, e que o riso gratuito não deve ser perseguido obstinadamente a qualquer preço. O carisma e talento apresentado pelas três atrizes poderiam ser bem melhor aproveitados na construção do espetáculo.

Gilson P. Borges

quarta-feira, 9 de maio de 2012

“Borboletas de Sol de Asas Magoadas”


            O público do Teatro do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro pôde conferir, na última terça-feira (04/05), dentro da programação da 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha, o espetáculo “Borboletas de Sol de Asas Magoadas”, com direção, roteiro, atuação e produção da atriz Evelyn Ligocki, de Porto Alegre.
            O espetáculo surgiu como projeto de graduação de Evelyn, no Departamento de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e baseou-se em entrevistas e pesquisas de campo, envolvendo o mundo dos travestis.
            A apresentação iniciou-se fora do Teatro, com a atriz já caracterizada com sua personagem, dialogando com o público que aguardava na fila. No palco, o cenário compunha-se, basicamente, de uma penteadeira com cadeira e um banco, com certa predominância dos tons branco e rosa, ladeados por almofadas e cadeiras nas duas laterais, nas quais os espectadores eram convidados a se sentar, já que a intenção era estabelecer um clima de confissões a serem feitas às pessoas que visitavam a personagem.
            Por meio da utilização da maquiagem, timbre de voz e da peruca loira, Evelyn realmente conseguiu criar na plateia a dúvida se era um homem ou uma mulher que estava interpretando o papel do travesti Betty.
            O espetáculo divide-se, basicamente, em duas partes: uma cômica e outra dramática. Na parte cômica, Betty, em intensa interação com o público, discorre sobre características e trejeitos de travestis, com luz forte no palco e luz de plateia acesa. Na parte dramática, é utilizada luz lateral dos dois lados do palco e focos de luz para criar o clima no qual Betty simula uma noite na calçada, onde é humilhada, agredida e, por fim, estuprada.
            Esta divisão, entretanto, foi quase ignorada por grande parcela do público (um dos piores já presentes no Teatro do Centro de Cultura), que atendia celular, fazia piadinhas estúpidas o tempo todo e divertiu-se muito, com altas gargalhadas, enquanto a atriz se esforçava para recriar a trágica cena do estupro. Tal falta de percepção, contudo, não foi apenas culpa do público, mas, principalmente, do roteiro, que, de uma situação interativa de intensa comicidade, passa, sem a devida transição ou explicação, para o trágico, que, posteriormente, também deságua abruptamente em uma coreografia de boate, que culmina no fim brusco do espetáculo, sem qualquer conclusão ou explicação.
            A sinopse do espetáculo afirma que “Betty pretende humanizar sua figura, desmistificar os travestis, romper clichês e preconceitos”. Infelizmente, tais objetivos não são alcançados, pois o cenário, a caracterização da personagem e as situações cômicas e dramáticas apresentadas são completamente estereotipadas, reproduzindo exatamente o clichê que as pessoas não esperavam encontrar, quando se depararam com o belíssimo e delicado título “Borboletas de Sol de Asas Magoadas”.
            Uma cena bonita chamou atenção no espetáculo: durante o desenrolar da peça, uma pessoa, sentada ao canto do palco, utilizava a Língua Brasileira de Sinais (Libras) para traduzir as falas da atriz a um grupo que acompanhava, atentamente, tudo aquilo que ocorria no palco, em um verdadeiro exemplo de inclusão.

Gilson P. Borges

“Miséria, Servidor de Dois Estancieiros”


            Os alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás puderam acompanhar, na última quarta-feira (09/05), como parte da programação da 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha, em sua vertente de ação de formação de plateia, o espetáculo “Miséria, Servidor de Dois Estancieiros”, da Cia. Oigalê, de Porto Alegre.
            O espetáculo foi dirigido por Hamilton Leite e o elenco inclui Bruna Espinosa, Diego Machado, Giancarlo Carlomagno, Karine Paz, Mariana Hörlle e Paulo Brasil.
            Trata-se de uma adaptação da obra “Arlequim, Servidor de Dois Amos” ou “Arlequim, Servidor de Dois Patrões”, do dramaturgo italiano Carlo Goldoni, a qual tornou-se uma das principais representantes da Commedia dell’Arte, uma forma de teatro popular improvisado, que, quase sempre, apresenta casais apaixonados, os quais, por alguma razão, encontram alguma dificuldade para consumar sua paixão, mas que, após muitas desavenças e quiproquós, conseguem, finalmente, o desejado final feliz.
            Na montagem da Cia. Oigalê, Arlequim é rebatizado como Miséria e os dois amos (ou patrões) são substituídos por dois estancieiros gaúchos. Na verdade, toda a trama é adaptada à realidade gaúcha, incluindo o seu vocabulário peculiar, sem esquecer a adequação de algumas falas, também, para esta apresentação, à geografia goiana.
            A maquiagem não se distancia muito da caracterização do clown, mas o figurino reproduz o traje popular gaúcho (bombacha - sem esquecer o facão, é claro - para as personagens masculinas, e saia e blusa ou vestido coloridos, para as femininas). Somente o figurino de Miséria é mais gasto e remendado com retalhos coloridos, enfatizando sua condição de miserável. Tal condição, contudo, não afeta a sua esperteza, que também foi muito utilizada e exaltada por Ariano Suassuna, na caracterização de João Grilo, em “O Auto da Compadecida”, personagem que aproxima-se bastante do Arlequim/Miséria.
            A fim de ganhar alguns trocados a mais, Miséria decide trabalhar para dois estancieiros ao mesmo tempo, mas suas trapalhadas criam diversas situações cômicas, que se complicam mais e mais a cada nova ação, forçando-o a revelar a verdade de cada uma delas, para que tudo se resolva, a fim de que todos os casais possam desfrutar do matrimônio e viver, a partir de então, felizes para sempre.
            A modalidade de Teatro de Rua, escolhida pelo grupo para a apresentação do espetáculo, adapta-se muito bem à trilha sonora composta por Mateus Mapa e Simone Rasslan e executada e cantada ao vivo pelos atores. Os efeitos sonoros também são constantemente utilizados para enfatizar o humor das cenas e até para descrever a chegada de um trem.
            O cenário compõe-se de caixotes de madeira e escadas, que são constantemente reorganizados, adquirindo novas funções e servindo com praticidade aos mais diversos propósitos.
            Todos os atores estão muito bem e apresentam um trabalho harmonioso em cena, conseguindo, por meio da interação com o público, o canto, a sonoplastia e a interpretação, contar, de forma bastante eficiente, as venturas e desventuras de Miséria e seus dois patrões.

Gilson P. Borges

CENSURADO

Eu me recuso terminantemente a falar do espetáculo Borboletas de Sol de Asas Magoadas.

O espetáculo é lindo a atriz é genial, mas o público ~CENSURADO~ me fez o favor de ~CENSURADO~ com a apresentação e ~CENSURADO~ direitinho. Então me reservo o direito de assistir ao espetáculo.

Sei de duas coisas merece muito ser assistido pelo menos duas vezes. No meu caso uma vez e meia.

Povo ~CENSURADO~ ~CENSURADO~ ~CENSURADO~ ~SANTO CRISTO!~ ~CENSURADO~ ~EU NEM SABIA QUE ESSA PALAVRA EXISTIA~

Queria na verdade expor cada uma daquelas pessoas inúteis à dor extrema. Mas não vou porque sou muito melhor que elas.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Intercâmbio entre a UFRGS e a UnB



Debate “Pedagogia do Teatro: entre formação e criação” 


Estudantes e professores de Artes Cênicas do Distrito Federal tiveram a oportunidade de participar de um importante encontro hoje, na Universidade de Brasília, no âmbito da programação da 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro.

Três encontros distintos movimentaram o Departamento de Artes Cênicas da UnB, que discutiu, entre outros temas, a “Etnocenologia: diálogos entre o centro e sul”, com a participação da professora Inês Marocco (UFGRS) e do professor Graça Veloso (UnB) e “Pedagogia do Teatro: entre formação e criação” com João Pedro Gil (UFGRS) e Zé Mauro.

O debate marcou o início da programação de intercâmbio entre as duas universidades e termina nesta terça-feira, 8 de maio. O tema a ser debatido será “A cena contemporânea no RS:conexões” com a presença de Patrícia Fagundes e Suzy Weber (UFGRS) e Fernando Villar (UnB), a partir das 16h. 




segunda-feira, 7 de maio de 2012

Apresentações Musicais


Além da programação teatral, a 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha proporcionou, também, ao público goiano, apresentações musicais, que ficaram a cargo da banda DeFalla e do Renato Borghetti Quarteto, além do goiano Tom Chris, que foi escolhido para participar do intercâmbio musical com as duas bandas gaúchas.

Os três grupos apresentaram-se no último sábado (05/05), em palco armado no Parque Flamboyant, em sequência às apresentações teatrais do Festival.

A primeira a subir ao palco foi a banda DeFalla, cujo nome homenageia o compositor espanhol Manuel de Falla, e surgiu em 1984, em Porto Alegre, misturando estilos como o rock psicodélico, hard, funk e rap. Sua formação inclui o vocalista Edu K, o guitarrista Castor Daudt, o baixista Flávio Santos e a baterista Biba Meira, uma das primeiras mulheres a tocar bateria em uma banda.

Infelizmente, o show do DeFalla não conseguiu empolgar muito a plateia. Não por culpa da banda, que demonstrou muita competência, integração e carisma, mas por pura incompatibilidade entre horário, público e estilo musical. A banda foi a primeira a se apresentar (às 19h), e o público presente consistia, basicamente, de pais e crianças, que acompanharam a programação teatral infantil da tarde, bem como pessoas de mais idade, que já haviam chegado para prestigiar o show do Renato Borghetti Quarteto. Este público acompanhou com grande dose de apatia (alguns até com certa indignação) a execução de músicas como “Sodomia” e “Popozuda Rock’n’Roll”. Alguns, porém, deleitaram-se com o espetáculo, já que acompanham e apreciam o trabalho da banda desde o seu surgimento.

Na sequência, apresentou-se o cantor goiano Tom Chris, que atraiu um grupo de fãs que já acompanha suas frequentes apresentações na cidade de Goiânia, o qual cantou junto com ele músicas de compositores goianos e hits consagrados da MPB. Algumas pessoas aproveitaram a oportunidade para tirar fotos de si mesmas na frente do palco, tendo o cantor como imagem de fundo.

Tom Chris cantou acompanhado pelo virtuose Luiz Chaffin (violão e guitarra) e pelos não menos competentes Marcelo Maia (baixo), Guilherme Santana (bateria) e Willian Cândido (teclado).

Concluindo as apresentações musicais da programação, subiu ao palco a mais esperada atração: Renato Borghetti. Sem abandonar a música de raiz gaúcha, como o vanerão, a milonga e o chamamé, o músico soube utilizar seu acordeom para modernizar estes ritmos, dotando-os de um estilo mais jazzístico, assim como fez Astor Piazzolla, conquistando admiradores no mundo todo.

Borghetti apresentou-se acompanhado pelos excelentes músicos Daniel Sá (violão), Pedrinho Figueiredo (flauta e sax) e Vitor Peixoto (teclados). A falha no som que afetou, por alguns minutos, a execução inicial das notas do violão, flauta e acordeom, após superada, permitiu que a atenção do público fosse total, durante toda a apresentação, levando algumas pessoas, inclusive, a dançar ou a ligar para vizinhos e amigos, convidando-os para dirigirem-se ao local imediatamente, pois estavam perdendo um grande show.

Gilson P. Borges

"Gringa Errante"


No último domingo (06/05), o público frequentador da Feira do Cerrado teve a oportunidade de acompanhar o espetáculo “Gringa Errante”, dentro da programação da 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha.

Trata-se de uma combinação entre a linguagem do clown, Teatro de Rua e Teatro de Animação, apresentada pela atriz, palhaça e bonequeira Genifer Gerhardt, por meio de sua personagem Palitolina Russo. Além de atuar, Genifer também recebe os créditos pela direção, roteiro e confecção dos bonecos e adereços de cena.

Ao invés de iniciar seu espetáculo no local que já encontrava-se preparado para a apresentação, Genifer aproveitou muito bem a oportunidade de interação com o espaço e o público, ao optar por sair já caracterizada como Palitolina do estacionamento da feira e ir percorrendo várias bancas, cumprimentando e convidando feirantes e visitantes a assistirem o espetáculo.

O cenário compõe-se de duas malas, das quais brotam duas altas flores confeccionadas com tecido, que são utilizadas em uma das cenas. Seu figurino, juntamente com o nariz de palhaço e um toque especial dado por seu gorro, o qual conta com uma armação de arame que permite a mudança do seu formato, caracterizam perfeitamente a personagem Palitolina.

A interação constante é o que garante a graça e o ritmo fluente do espetáculo, não somente por meio da seleção de “voluntários” que ajudam na construção de cada quadro, mas, também, da utilização de ações simples, como pedir a pessoas do público que partilhem com ela o que estão bebendo ou comendo. A simpatia natural da atriz torna tais ações ainda mais efetivas.

As técnicas de clown utilizadas são enormemente enriquecidas com as técnicas de manipulação, como ocorre no quadro em que Palitolina contracena com um casaco vestido em um tripé, encimado por um chapéu, conseguindo, em certos momentos, o efeito de que o paletó realmente tivesse ganhado certa dose de vida. O mesmo ocorre com os delicados movimentos utilizados por ela para manipular uma boneca que reproduz sua própria imagem, e que, por sua vez, manipula uma boneca menor ainda, com a mesma aparência. Esta cena é de beleza, ternura e poética ímpares e chegou a arrancar diversos comentários positivos da plateia.

Todas as cenas e ações funcionaram muito bem, o que deu a impressão de o espetáculo ser mais curto do que poderia ser. A inclusão de mais um quadro seria muito bem-vinda e poderia ajudar a suprir a sensação de “saciedade” da plateia.

O uso de microfone, principalmente em espaços maiores e ruidosos, faz-se necessário, a fim de que toda a ação seja devidamente acompanhada pelo público e que o tom de voz um pouco esganiçado, utilizado pela atriz quando o barulho aumenta, com o intuito de se fazer ouvir melhor, seja suavizado, tornando a interpretação ainda melhor.

Enfim, a “Gringa Errante” Palitolina, apesar de seu comportamento aparentemente desajeitado, conquistou a todos com sua simpatia, técnica, graça e poesia.

Gilson P. Borges

domingo, 6 de maio de 2012

"A Tecelã"


Mais um espetáculo de qualidade destacou-se no último domingo (06/05), no Teatro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, dentro da programação da 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha.

Com direção de encenação, dramaturgia e concepção estética de Paulo Balardim, a Cia. gaúcha Caixa do Elefante apresentou o espetáculo “A Tecelã”, personagem capaz de tecer e materializar (até certo ponto) todos os seus desejos.

Começando com a manipulação de um novelo de lã, passando pela utilização de uma cadeira, transformada em barriga e em mesa, sobre a qual surgem, por meio de técnicas de ilusionismo, um copo, um pedaço de pão, uma garrafa e um chapéu, a Tecelã materializa, para preencher a solidão dos seus dias de labor, a figura do seu “príncipe encantado”, o qual, por algum desvio na tessitura, ou porque não é possível controlar o fio do destino, se transforma em seu rei e, por fim, em seu algoz.

O elenco compõe-se das atrizes Carolina Garcia, Valquíria Cardoso e Viviana Schames, mas, algumas vezes, é difícil identificar quantas pessoas estão realmente em cena, já que a perfeita manipulação não permite distinguir, claramente, quem é gente e quem é boneco. Alguns bonecos, como o do “príncipe”, por exemplo, parecem, em certos momentos, realmente ganhar vida, como ocorre na cena em que ele e a Tecelã se abraçam no piso do palco, o qual, por ser elevado, dá a ideia de apresentar uma caixa cênica dentro de outra caixa cênica, onde bonecos (e também atores) são manipulados. O mesmo ocorre com a primeira aparição do boneco da tecelã, que, por alguns instantes, confunde-se com a figura da atriz que a interpreta.

Ao ilusionismo unem-se a projeção de imagens, popularizada pelo grupo Lanterna Magika, de Praga, Teatro de Sombras, mímica e técnicas de manipulação de bonecos, como a manipulação direta e com vara, que estão presentes, mas são até difíceis de serem identificadas, pois a iluminação do espetáculo, concebida por Bathista Freire e Daniel Fetter, é tão precisa, harmoniosa e bem desenhada que acaba camuflando a técnica e ressaltando a beleza das imagens.

A trilha sonora composta originalmente para o espetáculo por Nico Nicolaiewsky é de fundamental importância para delimitar o ritmo e o clima tenso, trágico ou poético de cada cena (e o faz muito bem), já que a peça não possui diálogos falados.

A cena de composição do “príncipe” pareceu um pouco longa, mas nada que chegue a comprometer a beleza do espetáculo.

A perfeita integração entre iluminação, trilha sonora, figurino, interpretação e manipulação destacam, também, o mérito da direção, que conseguiu proporcionar ao público um espetáculo poético de grande encantamento, por meio da protagonista Carolina Garcia (sem esquecer o mérito do trabalho executado conjuntamente por toda a equipe), que apresenta um resultado digno daquele tecido por Aracne, na Mitologia Grega, só que sem terminar transformada em aranha pela deusa Atena, devido à inveja nela despertada pela habilidade da tecelã.

Gilson P. Borges

Programação

Programação de hoje:

15 horas - Mundo Miúdo, Teatro do Instituto Federal de Educação (entrada-franca)

16 horas - Histórias da Carrocinha, Teatro do Instituto Federal de Educação (entrada-franca)

19 horas - A Tecelã, Teatro do Instituto Federal de Educação (entrada-franca)

20 horas - O Fantástico Circo-Teatro de um Homem Só, Teatro Goiânia Ouro (R$ 20,00 inteira; R$ 10,00 meia-entrada)

A programação completa no site:

http://www.alecrim.art.br/2012/go.html

"Histórias da Carrocinha"


A Cia. gaúcha Caixa do Elefante levou ao público do Parque Flamboyant, na tarde de sábado (05/05), dentro da programação da 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha, o espetáculo “Histórias da Carrocinha”, dirigido por Mario de Ballentti.
São três as “histórias” mencionadas no título do espetáculo, todas elas costuradas pela simpática figura do apresentador-cachorro Abelardo (daí a substituição de “Carochinha” por “Carrocinha”, à qual o título faz alusão), que teima em perder e perseguir seu próprio rabo.
No primeiro episódio, intitulado “O Vendedor de Balões”, o Sr. Unhoso pretende furar, com suas unhas, todos os balões do referido vendedor. No segundo, “A Rua dos Fantasmas”, Maria tenta se livrar, com a ajuda de Joãozinho, dos fantasmas e do diabo que invadiram sua casa. No terceiro, “O Padeiro e o Diabo”, o padeiro Ronaldinho enfrenta um diabo de três rabos, que quer se apossar de todos os seus pães.
Todos os episódios são apresentados em uma empanada, a qual traz, na parte superior, uma estrutura que estampa o título do espetáculo e um galo, que canta ao início da encenação e também indica os pontos cardeais.
A perfeita manipulação dos bonecos, que fica a cargo dos atores-manipuladores Paulo Balardim e Mario de Ballentti, principalmente com o auxílio das técnicas de luva, vara e luva com vara, é o ponto forte do espetáculo. Todas as personagens deslizam pelo topo da empanada em completa sincronia e precisão.
A interação com a plateia é constante e as improvisações aproximam as histórias narradas da realidade goiana, mas os episódios são um pouco longos, quebrando, de certa forma, o ritmo da encenação. A inclusão de mais uma história, por exemplo, permitiria a redução da ação das outras três, dando mais dinamismo a todas elas.
A repetição da utilização da personagem do diabo, em “A Rua dos Fantasmas” e “O Padeiro e o Diabo”, que também aparece, de certa forma, em “O Vendedor de Balões”, já que o Sr. Unhoso, por sua aparência e ações, também pode ser interpretado como uma espécie de diabo, torna-se um pouco excessiva, bem como a utilização de um porrete para abatê-lo, prejudicando, de certa forma, o que era novidade na primeira história apresentada.
A linguagem empregada nas narrações, principalmente aquelas que envolvem situações de improvisação, causam certa dificuldade na identificação do público ao qual o espetáculo está sendo realmente dirigido. Por exemplo, a utilização do metateatro, bem como algumas referências à atualidade, não parecem ser de fácil assimilação pelo público infantil. A falta de acento na palavra “Histórias”, estampada no topo da empanada, também não é muito adequada ao público infantil (e nem ao público adulto).
Concluindo, com alguns ajustes de roteiro, “Histórias da Carrocinha”, que já é um bom espetáculo e conta com ótima manipulação e interpretação, pode se tornar um excelente espetáculo.

Gilson P. Borges

A Feiticeira


Dentro da minha cabeça pervertida todo texto que eu escrevo deveria irrefutavelmente se parecer com aquilo a que ele se refere. Mania besta de poeta. ~não que eu seja, má né?~ Esse aqui por exemplo deveria se encantador e um abismo para os olhos. Não vai ser, cês fiquem avisados.
Pensa comigo, minha gente: um dia na sua vida cês tão saindo de casa com um amigo ~o sempre presente Robert~ pra assistir uma peça. Normal, já fizeram isso várias vezes, algumas acompanhadas ainda por sua irmã e por eventuais. Chega no teatro, se senta confortavelmente e sem o menos aviso, insuspeitadamente roubam sua alma. Aconteceu comigo muitas vezes. Há provas e mais provas disso, além é claro do meu testemunho e de mais gentes completamente fidedignas.
Um ano mais ou menos se passa e você descobre que o maldito ~Kakaroto~ ladrão estará de volta à cidade. O que você faz? Denuncia à polícia ou vai tirar satisfação. Eu chamo meus amigos para irem perder suas pobres almas junto comigo – que no caso tô devendo uma alma, pro povo lá. Se alguém tiver uma sobrando, favor emprestar. Desculpem, o Cícero e a Aline. Minha intenção não era boa desde o começo eu sabia que todo mundo ia ficar preso naquele palco. Maldade minha.
Cês ainda nem sabem do que eu fiquei aqui tagarelando, mas é tudo culpa das impagáveis artes malucamente mágicas de A Tecelã. É a segunda vez a que assisto essa peça. Ainda não sei como aquilo acontece. Simples assim: não sei. Tá, parcialmente eu sei, mas não acredito.
Eu acho que em algum momento durante os ensaios o pessoal da cia pensou assim: vamos logo destruir as leis da física e perverter os conceitos de tempo e espaço porque a gente pode! Até os mais céticos dos céticos saem de lá acreditando que feitiçaria existe. E eu sei que as três mulheres que agradeceram os aplausos atendem pelo inegável nome de Irmãs Sanderson.
É difícil eu me lembrar de um espetáculo que tenha encabulado tanto o coitado do meu cérebro como esse. Não tem um minuto em que ele não seja lindo. Sim, meu povo, o menor grau a que esse espetáculo chega é a lindura. Isso nivelando por baixo. É um DES-LUM-BRE! Uma mulher tecendo e destecendo seu destino já seria algo muito bonito se não fizessem de repente toda aquela magia feiticeira na frente dos meus olhos. Coisas que aparecem, coisas que somem, coisas que flutuam, bolas que dançam e uma beleza plástica de fazer inveja a qualquer pintor flamengo do século XVI. É algo que me deixa de queixo tombado, arrastado pelo chão. Pela segunda vez. SEGUNDA!
As atrizes, os bonecos, a história tudo é divino demais. A direção desse espetáculo! A sensação de que você está dentro do mais pontual dos relógios suíços onde nada sai fora. Nunca erro nenhum. É uma das formas de perfeição e exatidão mais acachapantes que eu posso imaginar. E todo mundo que estava lá vai assinar embaixo de olhos fechados, provavelmente com o próprio sangue, nisso que eu disse.
Cá entre nós ~que semo tudo amigo e cupincha~ acho que seria de bom tom cada um pegar sua tocha e seu forcado e a gente sair em procissão pra queimar as três atrises. Afinal, bruxas servem pra isso, dar brilho e volume ao fogo ~Wella~
Cada segundo dentro daquele teatro foi uma maravilha que eu não vou poder descrever nem com todas as palavras que eu sei, e olha que são muitas ~édulo, por exemplo~. E o melhor era a reação dos não-iniciados. Os murmúrios, os sustos, os embasbacamentos, as risadas, os sorrisos, os gritinhos, os maravilhamentos e todos aqueles outros sons indicativos de prazer físico. Claro que eu também exsudei todos esse burburinhos prazerosos e mais do que eles desde hoje cedo eu estava, apesar de uma dor de cabeça indigna da minha pessoa, dando gritinhos histéricos, pulando na ponta dos pés e sacudindo as mãos.
Quero deixar o registro aqui de que não tem como eu falar de alguma cena que seja melhor que a outra. É impossível. Pra mim é completamente impossível. Se for falar do que tem de bom nessa peça, senta que lá vem história. Já aviso que quem quiser minha entediante companhia é mais do que provável encontra-la amanhã às dezenove horas no teatro do IFG assistindo embasbacado pela terceira vez A Tecelã.

Danilo Danílovitsch